O começo.

21 de dezembro de 2018. Holanda, cheguei.
Eu decidi voltar a escrever, porque sempre foi uma paixão. Sempre gostei de compartilhar minhas ideias, meus gostos e hoje em dia tenho usado muito mais os stories do que o blog em si. Por quase 5 anos, tive um blog literário onde compartilhei minhas opiniões sobre os livros que estava lendo, hoje em dia, sinto uma necessidade mais íntima de compartlhar não só sobre livros, mas também sobre a vida e tudo mais. Se você me segue nas redes sociais, deve saber que eu estou morando em outro país, na Holanda. E hoje eu quero compartilhar um pouco sobre o que me fez querer vir para cá.

Eu namoro um holandês. Não é um brasileiro morando na Holanda, é um holandês mesmo, made in netherlands. Quando nos conhecemos, não imaginava que ele seria o amor da minha vida, mas depois de um tempo soube que precisava ficar com ele, porque queria construir uma vida em conjunto. A gente simplesmente sabe quando é a pessoa certa. Não tem jeito. Eu iria vir só para passear, passar 2 semanas de férias aqui em dezembro, mas minha vida estava uma confusão total no Brasil. Não gostava do meu trabalho, minhas crises de ansiedade tinham voltado e eu não me sentia mais tão bem quanto antes. Me formei na faculdade e estava sem rumo, porque não queria trabalhar na área. Foi então que em uma conversa, percebemos que talvez seria uma boa ideia estarmos juntos por mais tempo, sem o problema da distância e foi assim, sem muito esforço, que decidi que estava na hora de mudar.
Sim, me demiti do emprego. Foi uma coisa corajosa, pois eu estava na zona de conforto, morando com os meus pais, perto dos meus amigos e tinha um emprego na minha área de formação. Quem me conhece sabe que vivi anos de depressão, momentos em que achei que nunca iria realizar nenhum dos meus sonhos e objetivos. No entanto, em 2018, eu já havia encontrado uma boa versão de mim, uma Anelise que sabia o que queria e o que NÃO queria e isso foi o suficiente para mudar radicalmente de vida. Começamos a montar nosso apartamento, a decorar, e agora a minha vinda permanente era inevitável. Meus pais me apoiaram muito, pela primeira vez, eu senti que estava tendo o apoio de todos que importavam, minha mãe conversou comigo sobre tudo, até sobre enxoval e foi assim, mais uma vez, que tive a certeza de que estava no caminho certo.

É fácil? Claro que não. Estou em um processo de adaptação, outra língua, outra cultura, a família do meu namorado, que é incrível, mas é diferente. Tudo é diferente e tudo é muito maravilhoso. Me sinto inspirada, amada, querida e sinto que a cada dia que passa, estou mais confiante sobre o futuro. 2019 começou, o ano em que eu faço 24 anos, o ano em que tudo mudou e eu estou preparada para isso. As pessoas vão falar sobre você, sobre suas escolhas, sobre sua vida e tá tudo bem, sabe por quê? Porque você é alguém nesse mundo, mas não interessa o que vão falar, não interessa se você será a fofoca da família, só você sabe o que vive.

É muito complicado entender o real significado da vida, o que nos preenche de amor e felicidade, o que nos deixa tranquilos e em paz, às vezes (e muitas vezes), a gente não descobre, muito menos entende tudo isso e acabamos ficando em um limbo de sentimentos, que mistura frustração e inquietude. Se mudar de país é uma experiência rica, mas não é tão fácil quanto parece. E, mesmo assim, a minha escolha não poderia ter sido mais certa. Ao futuro, apenas as consequências das minhas escolhas. As sementes foram plantadas e agora vou colher. O que sinto? Orgulho. O que desejo? Apenas continuar me conhecendo todo dia um pouco mais, evoluindo como ser humano e cidadã e contribuir para com o mundo da melhor maneira que eu sou.

A espantosa realidade das cousas 
É a minha descoberta de todos os dias. 
Cada cousa é o que é, 
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, 
E quanto isso me basta. 

Basta existir para se ser completo. 

Tenho escrito bastantes poemas. 
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. 

Cada poema meu diz isto, 
E todos os meus poemas são diferentes, 
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. 

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. 
Não me ponho a pensar se ela sente. 
Não me perco a chamar-lhe minha irmã. 
Mas gosto dela por ela ser uma pedra, 
Gosto dela porque ela não sente nada. 
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. 

Outras vezes oiço passar o vento, 
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. 

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; 
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, 
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar; 
Porque o penso sem pensamentos 
Porque o digo como as minhas palavras o dizem. 

Uma vez chamaram-me poeta materialista, 
E eu admirei-me, porque não julgava 
Que se me pudesse chamar qualquer cousa. 
Eu nem sequer sou poeta: vejo. 
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: 
O valor está ali, nos meus versos. 
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" - A Espantosa Realidade das Cousas
Heterónimo de Fernando Pessoa 

2 comentários

  1. Apenas a vida e o amor que você sempre mereceu <3

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  2. Que aventura, Anne! Queria eu ter a coragem que você tem! É saindo da zona de conforto que a gente tira o maior proveito dessa vida, você tá mais que certa em seguir sua intuição!

    Continue compartilhando suas descobertas com a gente! Tô amando ler suas experiências ❤️

    Beijos,
    Cris

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